domingo, 26 de agosto de 2007

A outra face do Opus Dei

O Opus Dei é uma instituição da Igreja Católica, fundada por São Josemaría Escrivá de Balaguer (que foi beatificado e, mais tarde, canonizado por João Paulo II). «A sua missão consiste em difundir a mensagem de que o trabalho e as circunstâncias habituais são ocasião para um encontro com Deus, para o serviço aos outros e para melhorar a sociedade. O Opus Dei colabora com as igrejas locais, organizando encontros de formação cristã (aulas, retiros, atendimento sacerdotal) destinados a quem tenha o desejo de renovar a sua vida espiritual e o seu apostolado.». Mas sabemos que há sempre duas faces na mesma moeda. Para muitos críticos e testemunhas o Opus Dei, apesar de a Igreja negar, é uma seita pois, a sua estrutura é autoritária, utilizando um certo controlo mental e exercendo um constrangimento colectivo que inspira sentimentos de culpa e de medo.
No início (anos 30-40), a obra era essencialmente intelectual. Balaguer recrutava universitários jovens com o intuito de recristianizar a sociedade, mas com a chegada dos anos 50, período da sua expansão, as coisas começaram-se a modificar, o dinheiro fazia falta. «O homem de negócios passou a ser preferido ao intelectual e estabeleceu então uma espécie de máfia do Opus Dei, em torno de Franco.» (Ditador de Espanha). Nos anos 60-70, o clima aqueceu e começaram a surgir as primeiras críticas à obra, assistindo-se até a uma vaga de saídas da mesma. Então e como é que o Opus Dei realmente funcionava? Ora bem, são abertas várias escolas por todo o mundo com a "missão divina" de recrutar membros para o Opus Dei. A escola hoteleira de Dosnon, no Aisne, é uma delas e, entre muita gente, Sylvie lá estudava, sonhando ter o seu CAP (Certificado de Aptidão Profissional). Os estudantes podiam visitar os pais em alguns fins-de-semana, mas quando Sylvie voltou o resultado estava à vista: pesava 40quilos, estava sempre a vomitar, não era capaz de escrever nem falar. É óbvio que os pais ficaram preocupados e começaram a procurar respostas. Eles, que não eram católicos constataram mais tarde que a sua filha se teria envolvido e pertencia agora ao Opus Dei. Ficaram chocados ao descobrir que ela tinha feito votos de pobreza, castidade e obediência aos 16anos sem sequer lhes ter contado nada, pois foi aconselhada pela sua directora de consciência (que requeria estrita obediência, quer se gostasse dela quer não), a não partilhar com os pais a sua experiência, visto que poderiam não aceitar. Lá na escola, a austeridade dos horários era de assustar e constituiam uma verdadeira corrida contra o relógio: orações a horas fixas, sendo a 1ª às 06:30 da manhã, dez terços rezados por dia, missa diária, leitura espiritual, exame de consciência todas as noites, incluindo também: a utilização do cilício 2horas por dia durante a semana, menos ao domingo, autoflagelação e obrigação de dormir no chão com um livro debaixo da cabeça. Mal acordavam, levantavam-se imediatamente, beijavam o chão e pronunciavam a palavra latina "serviam" (que significa, quero servir), tomando um duche frio depois (mortificação dedicada a "El Padre" (Balaguer) ). Os seus quartos e o correio eram revistados, acrescentando a manifestação de um tremendo cansaço, que pode ser constatado através deste pequeno excerto de uma carta: «Mandam-me limpar os vidros do castelo, não páro. Lavo a roupa dos padres...O ambiente é fechado. Não há abertura para o mundo. Na minha antiga escola via-se televisão...E depois eles querem entalar-me...Obrigam-me a fazer coisas que não quero, querem mandar fazer-me votos...Passo o tempo todo a chorar, estou farta, não posso mais, têm de me tirar daqui.» Esta rapariga, como muitas outras, era utilizada como "numerária auxiliar" ou criada, trabalhando nas casas masculinas como empregadas de limpeza ou, como dirão as más línguas, como "criadas para todo o serviço". No Opus Dei as mulheres não têm direitos nenhuns, parece que a sociedade petrificou no tempo. E se alguma vez reclamassem ou contassem algo a alguém de fora da "instituição", eram desrespeitadas pelo próprio fundador: «Se falares a alguém do Opus Dei, eu, Josemaría Escrivá de Balaguer, que tenho a imprensa do mundo inteiro nas mãos, vou desonrar-te perante os homens e a família. Tu és uma mulher pérfida, completamente corrupta, má, indecente...Puta, porca.» (Isto são palavras de um santo?!). «Ela não quer que lhe façam mais perguntas. Da última vez disse-me: "Se continuarem com isso nunca mais me põem a vista em cima". «É como se eu tivesse perdido a minha filha, perdido tudo.» Foram enviadas milhares de cartas pelas famílias desesperadas que aos poucos iam perdendo o contacto com os seus filhos e que descobriram no Opus Dei «um gosto pelo segredo, um controlo muito rigoroso por parte dos superiores, o gosto pelo poder e um certo concluio com o mundo do dinheiro.» Sim, porque o Opus Dei serve-se dos seus membros como fantoches, fazendo-os violar leis internacionais, sem sequer suspeitarem de absolutamente nada. 14 500 000 euros recebidos por mês pela obra (um rendimento mensal muito simpático) vindos dos votos de pobreza que obrigam os jovens fazer, pois a partir desse momento entregam tudo o que lhes pertença à obra, incluindo o salário e, negócios obscuros com grandes empresas, apostando em métodos menos vistosos como a criação de fundações e associações também ajudam. «Eu não sei se o "Opus Dei" significa na verdade "Obra de Deus", porque o comportamento do meu filho é completamente oposto a esta mensagem.» As desculpas esfarrapadas, mais aguçadas ou o silêncio são as respostas às cartas e mesmo aqueles de maior boa vontade são silenciados à força: «Recebi uma ordem formal de "cessar todo o debate" sobre o Opus Dei, "a fim de não ferir a caridade da Igreja". Está-me pois proibido, sob pena de sanção, inquirir e difundir informações, "mesmo exactas", respeitantes a este instituto, à sua organização, aos seus objectivos e às suas estruturas. Com as minhas desculpas, Albert Longchamp.». Ulteriormente, esta carta do padre jesuíta desapareceu dos arquivos, assim como qualquer "persona non grata" que tenha abandonado a obra, apagando qualquer rasto deixado pela mesma, como se nunca tivesse pertencido à instituição, depois de fazê-la passar por prisão domiciliária e interrogatórios de várias horas por dia. A Constituição do Opus Dei foi também modificada secretamente, após ter sido aprovada perpetuamente e considerada inviolável. «O Opus Dei quer manter uma igreja-fortaleza, porque vê a vida como uma guerra entre Deus e o Diabo. E numa guerra, como em todas as guerras, a censura é admitida, a mentira também(...)». É por tudo isto e por muito mais que certamente desconhecemos, que eu não acredito na Igreja , porque mesmo que exista um ser superior, independentemente de se chamar "Deus" ou não, nunca que o Homem, tão imperfeito como é, poderia sequer pensar em representá-lo e muito menos utilizar o seu poder de influência sobre mentes de jovens, perpetrando-lhes autênticas lavagens cerebrais, afastando-os daquilo que, segundo a Igreja Católica é o mais importante, a família. Concordo pois, com José Castillo, professor da Faculdade de Teologia de Granada, quando afirma que: «A anulação do discernimento acarreta graves consequências: o Evangelho é pervertido, a fé é alienada e a pessoa desaparece.»

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