quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Somos feitos de pequenas grandes coisas

«Nós também somos "feitos" pelos livros que nos marcaram, pelos filmes que vimos e pelas músicas de que gostamos», assim como "somos aquilo que fazemos", pois todo o tipo de condutas influenciarão a nossa personalidade. Somos influenciados por todo o tipo de aprendizagens efectuadas e por todas as experiências passadas. Tudo na nossa vida deixa marcas, ainda que muitas somente a nível do inconsciente. Cada ser humano encontra-se inserido numa determinada sociedade e, por isso, produz e recebe cultura. Está em perpétua interacção com o meio, sendo por ela influenciado. Os grupos a que o indivíduo pertence denotam certas características próprias ao mesmo, como crenças ou gostos que todos têm em comum. Nascemos dotados de estruturas fisiológicas, contudo o meio tem um papel fulcral no desenvolvimento da nossa identidade. Actualmente, a considerada terceira revolução industrial, devido ao rápido avanço tecnológico, torna os mass media cada vez mais poderosos, dando acesso às massas a cada vez mais informação. Contudo, vejamos, se nós somos aquilo que lemos, aquilo que vemos e ouvimos diariamente, não devemos "consumir" qualquer coisa. É imprescindível que seleccionemos tudo aquilo que queremos para nós, aquilo que interessa que a nossa personalidade absorva realmente, dado que terá impacto em nós (positivo ou negativo, é um facto) e consequentemente, na nossa vida e na maneira como interagimos com os outros. Por exemplo: se em vez de lermos um bom livro, lermos revistas do género "cor-de-rosa" ligadas ao jet set. Poderei até radicalizar, afirmando que mudará o nosso futuro completamente. Tudo se trata de uma construcção progressiva de qualidades e interesses que se sobrepõem aos defeitos, formando aquilo que somos. Num mundo globalizado, temos, portanto, de ter consciência de que o mais importante é o lucro. E, com todo esse "lixo" informacional a circular, as pessoas devem manter-se atentas para não cair nas garras do capitalismo. Temos a liberdade de trilhar caminhos diferentes, mas talvez seja por causa disso que neste país existe uma alta percentagem de ignorância. Se modificássemos as nossas actividades diárias, nem que fosse pegar no dicionário uma vez por dia e aprender uma palavra nova! Se todos nós o fizéssemos, mudaríamos certamente a condição actual de Portugal. Já chega de esperar por D. Sebastião...chega de esperar sentado por um amanhã melhor, porque é do presente que se transforma o futuro! Que se faça cumprir Portugal com o nascimento do V Império, que por não ser material é indestrutível. Façam com que Fernando Pessoa dance de alegria dentro da tumba!

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Stones don't love


Livin' day by day with a stone in your shoe

Children fun stone games, inocent interests speaking

So polished, seemed so perfect

But were so foolish

(Couldn't understand you)


Livin' day by day with a stone in your shoe

More you give, more they take

Make you strong, increase your hate

Not too heavy, seemed so perfect

But were so numb

(Couldn't recognize your effort)


Livin' day by day with a stone in your shoe

Trowin' it out, always lose some part of you

Black stone, seemed so perfect

But never had a heart

(Couldn't love you)


Say goodbye,

Saile among the horizon or touch the blue sky

There stones can't harm you

There you feel alive.

«O Homem nasceu livre e em toda a parte se encontra algemado», Rousseau.

Admitindo que a liberdade é a essência do ser humano, Rousseau afirma que «O Homem nasceu livre» e, «(...) em toda a parte se encontra algemado.», pois apesar de ser considerado à priori um "bom selvagem", o indivíduo é influenciado e corrompido pela sociedade desde a iniciação do seu processo de socialização, ou seja, desde a sua integração na comunidade à qual pertence, processo este que ocorre logo após o seu nascimento. Com a socialização, surgem as normas sociais que consistem na adopção de modelos de comportamento socialmente aceitáveis, pré-estabelecidos por um grupo específico de indivíduos , cujas acções podem ser efectuadas de modo consciente ou inconsciente. É certo que qualquer sujeito sentir-se-á pressionado a respeitar e a obedecer a esses padrões com o intuito de adaptar-se e ser aceite pela sociedade em geral, e, mesmo que não se importe ou queira desobedecer, terá de lidar com essa pressão que será sempre maior a qualquer desejo do indivíduo e, ou ele consegue suportá-la ou acabará por ceder e recalcar as suas ideias, consciente ou inconscientemente, de modo a poder integrar-se no meio social. Quando as mesmas normas são adoptadas por todos os indivíduos do mesmo grupo, extingue-se a capacidade crítica dos seus elementos, o que influenciará, efectivamente, a personalidade do indivíduo em particular, na medida em que, o impede , por parte, de construir a sua própria identidade. Assim, tornar-se-á num sujeito conformado com o mundo em que vive, aceitando tudo aquilo que lhe é dado ou imposto. Rousseau propõe-nos então, um mergulho introspectivo pela busca do nosso lado natural, do nosso lado selvagem, do nosso verdadeiro "eu", o "eu" que é livre, pois como já acima foi referido, acredita que o ser humano é originalmente bom e inocente, íntegro e primitivo. Pessoalmente, considero que, apesar de o Homem em toda a parte se encontrar algemado, literalmente ou não (pois também existem muitos povos subordinados a outros), ele próprio constitui um factor contribuinte para a sua prisão, devido a simples factores como, o medo de punição ou de não aceitação, ambição pelo poder e o ofuscar do dinheiro, a quase que incapacidade para amar o próximo que determinados seres humanos possuem, a ignorância, em vez de se preocuparem com as pequenas coisas que proporcionam-nos imenso prazer de viver, amar e respeitar tudo o que nos rodeia, não só as pessoas mas também o meio ambiente, conseguir agir para além do medo, porque a coragem é isso mesmo e procurar saber mais e mais, porque o saber não ocupa espaço, nunca é demais. E, se é verdade que a ignorância é uma bênção, não deixa de ser uma prisão. Uma pessoa ignorante é menos livre que uma outra que saiba a base das suas escolhas, pois tem menos espaço de manobra, menos capacidade de expressão. As pessoas inconformadas são objecto de crítica, marginalizadas muitas vezes, contudo estão na base da mudança social. São estas minorias que, resistindo à pressão social para o conformismo e obediência, conseguem estabelecer condições para o progresso, na medida em que influenciarão cada grupo existente em cada sociedade e, consequentemente, em todo o mundo.A verdade é que o mundo se tornou num lugar sombrio, devido às duas grandes guerras e à tensão que a ameaça de uma terceira provoca...e porquê?! Porque o homem decidiu tirar partido dos avanços tecnológicos para uma destruição em massa, para se auto-destruir.Vejamos também, por exemplo, a questão do progressivo alargamento do buraco do ozono que nos ameaça através do aquecimento global. De quem será a culpa? Do homem! Porque o homem abusa do meio ambiente, poluindo-o, e, como se ainda não bastasse, destrói florestas inteiras através do corte e abate de árvores, árvores estas que, como todos sabemos, nos providem de ar puro.Há que sublinhar pois, que a liberdade também implica respeito e responsabilidade. O homem não é livre porque se limita a si próprio e não pensa nas consequências dos seus actos. O caminho por onde está a seguir não terá retorno.Reconheço porém que ainda tenho esperança que o mundo mude, afinal, para a vida sentido é necessário acreditarmos nela. Lutemos por um mundo melhor, guiado pela razão, pelo respeito mútuo, pela felicidade universal!

domingo, 26 de agosto de 2007

A outra face do Opus Dei

O Opus Dei é uma instituição da Igreja Católica, fundada por São Josemaría Escrivá de Balaguer (que foi beatificado e, mais tarde, canonizado por João Paulo II). «A sua missão consiste em difundir a mensagem de que o trabalho e as circunstâncias habituais são ocasião para um encontro com Deus, para o serviço aos outros e para melhorar a sociedade. O Opus Dei colabora com as igrejas locais, organizando encontros de formação cristã (aulas, retiros, atendimento sacerdotal) destinados a quem tenha o desejo de renovar a sua vida espiritual e o seu apostolado.». Mas sabemos que há sempre duas faces na mesma moeda. Para muitos críticos e testemunhas o Opus Dei, apesar de a Igreja negar, é uma seita pois, a sua estrutura é autoritária, utilizando um certo controlo mental e exercendo um constrangimento colectivo que inspira sentimentos de culpa e de medo.
No início (anos 30-40), a obra era essencialmente intelectual. Balaguer recrutava universitários jovens com o intuito de recristianizar a sociedade, mas com a chegada dos anos 50, período da sua expansão, as coisas começaram-se a modificar, o dinheiro fazia falta. «O homem de negócios passou a ser preferido ao intelectual e estabeleceu então uma espécie de máfia do Opus Dei, em torno de Franco.» (Ditador de Espanha). Nos anos 60-70, o clima aqueceu e começaram a surgir as primeiras críticas à obra, assistindo-se até a uma vaga de saídas da mesma. Então e como é que o Opus Dei realmente funcionava? Ora bem, são abertas várias escolas por todo o mundo com a "missão divina" de recrutar membros para o Opus Dei. A escola hoteleira de Dosnon, no Aisne, é uma delas e, entre muita gente, Sylvie lá estudava, sonhando ter o seu CAP (Certificado de Aptidão Profissional). Os estudantes podiam visitar os pais em alguns fins-de-semana, mas quando Sylvie voltou o resultado estava à vista: pesava 40quilos, estava sempre a vomitar, não era capaz de escrever nem falar. É óbvio que os pais ficaram preocupados e começaram a procurar respostas. Eles, que não eram católicos constataram mais tarde que a sua filha se teria envolvido e pertencia agora ao Opus Dei. Ficaram chocados ao descobrir que ela tinha feito votos de pobreza, castidade e obediência aos 16anos sem sequer lhes ter contado nada, pois foi aconselhada pela sua directora de consciência (que requeria estrita obediência, quer se gostasse dela quer não), a não partilhar com os pais a sua experiência, visto que poderiam não aceitar. Lá na escola, a austeridade dos horários era de assustar e constituiam uma verdadeira corrida contra o relógio: orações a horas fixas, sendo a 1ª às 06:30 da manhã, dez terços rezados por dia, missa diária, leitura espiritual, exame de consciência todas as noites, incluindo também: a utilização do cilício 2horas por dia durante a semana, menos ao domingo, autoflagelação e obrigação de dormir no chão com um livro debaixo da cabeça. Mal acordavam, levantavam-se imediatamente, beijavam o chão e pronunciavam a palavra latina "serviam" (que significa, quero servir), tomando um duche frio depois (mortificação dedicada a "El Padre" (Balaguer) ). Os seus quartos e o correio eram revistados, acrescentando a manifestação de um tremendo cansaço, que pode ser constatado através deste pequeno excerto de uma carta: «Mandam-me limpar os vidros do castelo, não páro. Lavo a roupa dos padres...O ambiente é fechado. Não há abertura para o mundo. Na minha antiga escola via-se televisão...E depois eles querem entalar-me...Obrigam-me a fazer coisas que não quero, querem mandar fazer-me votos...Passo o tempo todo a chorar, estou farta, não posso mais, têm de me tirar daqui.» Esta rapariga, como muitas outras, era utilizada como "numerária auxiliar" ou criada, trabalhando nas casas masculinas como empregadas de limpeza ou, como dirão as más línguas, como "criadas para todo o serviço". No Opus Dei as mulheres não têm direitos nenhuns, parece que a sociedade petrificou no tempo. E se alguma vez reclamassem ou contassem algo a alguém de fora da "instituição", eram desrespeitadas pelo próprio fundador: «Se falares a alguém do Opus Dei, eu, Josemaría Escrivá de Balaguer, que tenho a imprensa do mundo inteiro nas mãos, vou desonrar-te perante os homens e a família. Tu és uma mulher pérfida, completamente corrupta, má, indecente...Puta, porca.» (Isto são palavras de um santo?!). «Ela não quer que lhe façam mais perguntas. Da última vez disse-me: "Se continuarem com isso nunca mais me põem a vista em cima". «É como se eu tivesse perdido a minha filha, perdido tudo.» Foram enviadas milhares de cartas pelas famílias desesperadas que aos poucos iam perdendo o contacto com os seus filhos e que descobriram no Opus Dei «um gosto pelo segredo, um controlo muito rigoroso por parte dos superiores, o gosto pelo poder e um certo concluio com o mundo do dinheiro.» Sim, porque o Opus Dei serve-se dos seus membros como fantoches, fazendo-os violar leis internacionais, sem sequer suspeitarem de absolutamente nada. 14 500 000 euros recebidos por mês pela obra (um rendimento mensal muito simpático) vindos dos votos de pobreza que obrigam os jovens fazer, pois a partir desse momento entregam tudo o que lhes pertença à obra, incluindo o salário e, negócios obscuros com grandes empresas, apostando em métodos menos vistosos como a criação de fundações e associações também ajudam. «Eu não sei se o "Opus Dei" significa na verdade "Obra de Deus", porque o comportamento do meu filho é completamente oposto a esta mensagem.» As desculpas esfarrapadas, mais aguçadas ou o silêncio são as respostas às cartas e mesmo aqueles de maior boa vontade são silenciados à força: «Recebi uma ordem formal de "cessar todo o debate" sobre o Opus Dei, "a fim de não ferir a caridade da Igreja". Está-me pois proibido, sob pena de sanção, inquirir e difundir informações, "mesmo exactas", respeitantes a este instituto, à sua organização, aos seus objectivos e às suas estruturas. Com as minhas desculpas, Albert Longchamp.». Ulteriormente, esta carta do padre jesuíta desapareceu dos arquivos, assim como qualquer "persona non grata" que tenha abandonado a obra, apagando qualquer rasto deixado pela mesma, como se nunca tivesse pertencido à instituição, depois de fazê-la passar por prisão domiciliária e interrogatórios de várias horas por dia. A Constituição do Opus Dei foi também modificada secretamente, após ter sido aprovada perpetuamente e considerada inviolável. «O Opus Dei quer manter uma igreja-fortaleza, porque vê a vida como uma guerra entre Deus e o Diabo. E numa guerra, como em todas as guerras, a censura é admitida, a mentira também(...)». É por tudo isto e por muito mais que certamente desconhecemos, que eu não acredito na Igreja , porque mesmo que exista um ser superior, independentemente de se chamar "Deus" ou não, nunca que o Homem, tão imperfeito como é, poderia sequer pensar em representá-lo e muito menos utilizar o seu poder de influência sobre mentes de jovens, perpetrando-lhes autênticas lavagens cerebrais, afastando-os daquilo que, segundo a Igreja Católica é o mais importante, a família. Concordo pois, com José Castillo, professor da Faculdade de Teologia de Granada, quando afirma que: «A anulação do discernimento acarreta graves consequências: o Evangelho é pervertido, a fé é alienada e a pessoa desaparece.»

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

“Odeio-me e quero morrer”, Kurt Cobain

«Nasci em Aberdeen, Washington, em 1967, e vivi entre Aberdeen e Montesano que ficava a 20 milhas de distância. Andei de um lado para o outro em casas de pessoas de família durante toda a minha infância.»

«Em criança, durante um certo período, queria ser duplo cinematográfico; gostava de todas as brincadeiras mais arriscadas (…)»

«Na minha família havia uma grande paixão pela música (…) os meus pais ofereceram-me uma bateria do rato Mickey mas, provavelmente, era só uma tentativa para que eu deixasse de bater continuamente em panelas e tachos…E quando alguém me fazia aquela clássica pergunta: “O que queres ser quando fores grande?”, eu respondia-lhe prontamente: “Quero ser uma estrela de rock!”. Ao princípio ouvia tudo aquilo a que podia deitar a mão. Gostava dos Beatles.»

«Quando tinha sete anos, os meus pais separaram-se. Lembro-me de sentir vergonha disso sem saber explicar bem porquê. Não conseguia olhar de frente para alguns dos meus amigos na escola. Desejava desesperadamente ter uma família clássica, típica, com pai e mãe, desejava essa segurança.»
«(…) comecei a sentir-me diferente das outras crianças: tinha-me convencido que valia menos do que eles, porque eles tinham família ao passo que eu já não a tinha.»
«(…) custou-me muito perdoar isso aos meus pais.»
«O meu pai é incapaz de demonstrar afecto ou sequer de estabelecer uma conversa. Não queria manter uma relação apenas porque somos da mesma família. Por isso, da última vez que nos vimos, deixei isso bem claro. E, quer saber? Foi um alívio para ambos.»

«Depois do divórcio dos meus pais, de repente tudo ficou preto para mim, vivia sempre em depressão. Ia para a cama e passava horas e horas acordado, gritando dentro da minha cabeça, ou então, continha a respiração o mais que podia porque queria que a cabeça estoirasse. E se conseguisse fazer que ela estoirasse, os meus pais sentir-se-iam terrivelmente culpados…»
(Ver comportamentos suicidas)
«Quando conseguia pegar no sono, tinha sempre pesadelos tremendos, cheios de bonecas partidas, esventradas e decapitadas…Daí a pouco, a depressão dava lugar a uma raiva surda: em alguns momentos queria morrer mas também me sentia pronto a matar (…)»
«Cresci de um modo muito isolado. Tornei-me anti-social. Comecei a compreender a realidade do universo em que vivia, que tinha muito pouco para oferecer. Aberdeen era uma cidade demasiado pequena onde não encontrava amigos de quem gostasse, que fossem compatíveis comigo ou que gostassem do que eu gostava. Eu preferia coisas do tipo artístico e ouvir música.»

«(…) comecei a praticar luta livre; no princípio, era bastante bom, mas, depois, apercebi-me que me estava nas tintas para a luta livre e para o deporto em geral ao ponto dos treinos se terem tornado uma tortura…»
«No primeiro encontro do campeonato estudantil de luta livre, o meu pai estava sentado na tribuna e, desde o momento em que eu e o outro concorrente descemos para o tapete, não fiz outra coisa senão fixar o meu pai sorrindo-lhe: continuei a olhar para ele fixamente e a sorrir-lhe, enquanto o meu adversário me atirava ao chão quatro vezes seguidas…O meu pai foi-se embora deixando o ginásio ainda antes do fim do encontro e, a partir daquele dia, nunca me voltou mais a falar de desporto.»

«Os meus familiares tinham um terror danado da pobreza e, mesmo que no fundo fossem uns pobretanas, faziam tudo para parecer abastados. A minha mãe repetia-me continuamente que eu tinha absolutamente de evitar “as más companhias” (…) Mas, alguns anos depois, comecei a aperceber-me que (…) os pobretanas eram, ao fim e ao cabo, melhores, mais verdadeiros e sinceros.»
«Dos anos que passei no liceu tenho recordações dignas de filmes de terror...Em geral, os professores eram uns parvalhões, mas havia alguns mais do que outros. A um em especial odiava com todas as minhas forças: era o professor de Ciências Sociais, um fanático religioso racista, à máxima potência. Ele tinha a pretensão de "explicar a história" a partir do apocalipse e todos os meus colegas de liceu engoliam aquilo que ele dizia sem um piu...Queria realmente matá-lo e, muitas vezes, imaginava executar o gesto definitivo de o degolar bem no meio da aula, à frente de todos os estudantes.»
«Era tão anti-social que raiava a demência. Sentia-me tão diferente e louco que as pessoas deixavam-me em paz. Não me admirava nada se, então, me considerassem o tipo mais provavelmente capaz de matar alguém no baile do liceu. Cheguei a ter fantasias do género nas tenho a certeza que preferia matar-me primeiro.»
«Quando era puto lia tudo o que apanhava. Ia muito à biblioteca e faltava bastante às aulas.»
«(...) lia muito nas aulas só para me afastar dos outros e não ter de falar com eles. Muitas vezes, só para os evitar, até fingia ler.»
«Nunca conseguia arranjar rapazes amigos por isso convivia muito com raparigas e sentia que elas não eram tratadas com igualdade e respeito. Detestava a forma como, em Aberdeen, se tratava as mulheres; eram completamente oprimidas. As palavras "puta" e "cona" eram absolutamente vulgares, ouviam-se a toda a hora.»
«Finalmente compreendi que não era eu o atrasado mental.»

Comportamentos suicidas


Estudos sobre o suicídio têm demonstrado que a maioria das pessoas que o cometem encontram-se em grave e profunda depressão, apesar de não coincidir com o seu auge, geralmente marcado por uma tremenda lentidão de raciocínio, um adormecimento em relação à realidade, que a pessoa gradualmente procura ignorar, mas sim quando a inactividade começa a tornar-se menos acentuada. A realidade que rejeita começa a vislumbrar-se e a necessidade de fuga ou de chamamento de atenção é mais radical. A ideia do suicídio começa a agravar-se e a apoderar-se cada vez com mais força da sua mente em perfeito estado de revolta e solidão. Os suicidas sentem-se sempre desesperadamente incompreendidos e sós, mesmo rodeados de gente, desfasados e desencontrados de si mesmos, inadaptados e profundamente frustrados e desiludidos. Se encontram alguém com quem tenham a oportunidade de falar num gritante desabafo dum sufoco insustentável, que os escute, os compreenda e lhes mostre a vida com carinho é por vezes suficiente para evitar o acto. Muitos suicidas com patologia mental, foram génios de grande criatividade e legaram à humanidade fabulosas obras. Temos o exemplo de Vincent Van Gogh que já em criança e depois na adolescência atingiu o auge do sofrimento humano que se prolongou incessantemente … até perder a lucidez e atingir a loucura. Era um profundo desajustado e injustiçado, um inadaptado ao mundo humano, um sofredor que o levou ao suicídio aos 37 anos, apesar de aparentemente muito possuir. Van Gogh entre um período de lucidez e as descompensações da doença que o levaram a matar-se escreveu: "O suicídio faz com que os amigos e familiares se sintam seus assassinos". Alguns psicanalistas afirmam que o suicida adolescente não se apercebe totalmente da natureza da morte, e para ele o suicídio é um grito angustiantemente desesperado que reclama ajuda e atenção ou também uma forma de vingança sobre o mundo que o torturou e o lançou no caos. Inconscientemente o suicida quer castigar aqueles por quem se sente mal amado. Ele tenta arrastar o "outro" na sua morte. Tem uma necessidade de culpar, porque a revolta não dá tréguas. Contudo, todas as tentativas de suicídio devem ser encaradas com seriedade, pois das pessoas que tentam suicidar-se 20 a 30% fazem nova tentativa dentro de meses e 10% acabam por matar-se. O suicídio é muitas vezes uma solução patológica para um angustiante problema que a pessoa considera intransponível, como o isolamento social, as dolorosas injustiças, ingratidões, maus tratos, violências psíquicas a vários níveis, um lar que se desfez durante a infância, situação altamente traumatizante, cuja ferida se arrasta numa dor insuportável e culmina mais tarde numa depressão gravemente patológica que conduz ao terminus da vida; uma doença física grave, o desemprego, a toxicodependência, o envelhecimento que não se aceita, etc. De nada valem as riquezas materiais, a fama e glória, quando interiormente se vive no tédio, numa amargurante angústia sem encontrar solução nem saída para esses estados psíquicos. Responsabilidades de ordem material como chefes de família em ruína monetária, jogadores demasiado pressionados para o pagamento das suas dívidas, e sem controle, etc., transportam as mentes desorientadas sem mecanismos de defesa à fuga às responsabilidades existenciais, ao sofrimento e sentem que só têm o recurso da morte. Esta forma macabra de terminar com a existência não conhece fronteiras e ocorre em todos os estratos sociais. Os suicídios verificam-se frequentemente em idades que marcam fronteiras na existência: a puberdade, a adolescência, e entre a maturidade e a velhice. É curioso saber que as mulheres quer adolescentes ou adultas fazem 3 vezes mais tentativas de suicídio que os homens. No entanto de um modo geral, é mais grave no sexo masculino, porque, por razões ainda não inteiramente esclarecidas o homem tem tendência a matar-se com armas de fogo, por afogamento, por enforcamento, ou saltando de grandes altitudes, enquanto que o sexo feminino recorre mais ao envenenamento. O estado civil é também um indicador importante: o suicídio é mais comum entre os indivíduos divorciados, seguido de solteiros, muitas vezes com sofridas frustrações nas buscas sentimentais como único sentido de vida; e também é vulgar o suicídio nos viúvos. A nota de suicídio é uma mensagem deixada por alguém que em seguida tenta ou comete suicídio. De acordo com a Dra. Lenora Olson, as razões mais comuns para que um indivíduo que contempla o suicídio deixe uma última nota incluem: aliviar a dor dos que ficam, tentando isentá-los de culpa; aumentar a dor dos que ficam, atribuindo-lhes culpa; esclarecer a razão do suicídio; atrair piedade ou atenção ou deixar instruções do que fazer com o que restou. Seja como for, em todo o mundo suicidam-se diariamente mais de 2000 pessoas (estatística analisada a partir de 1985). Nos Estados Unidos, por exemplo, o número oficial de mortes por suicídio é de 30 000 por ano ou quase 100 por dia. Este número vai aumentando gradualmente de ano para ano. No entanto os analistas duplicam ou triplicam esse número pelo facto de muitos suicídios serem considerados como acidentes. Mais de 90% dos suicídios verificam-se em resultado de múltiplas doenças psíquicas ou psiquiátricas, sendo mais vincado por distúrbios de personalidade. Os suicidas nunca aceitam a realidade, e são os familiares e os que estão a viver mais perto, os culpados segundo a sua mente tão perturbada, levando-os a odiar a quem na realidade mais dependem, como pais ou mulher com quem vivem. O maior risco verifica-se em pessoas que vivem em Zonas urbanas pobres. Um estudo realizado nos Estados Unidos demonstrou que 50% de todas as tentativas de suicídio entre os adolescentes são realizadas como consequência do mau ambiente familiar. O desamor entre a humanidade, iniciado na célula de qualquer sociedade – a família; os conflitos que geram conflitos; as agressões físicas sobre as crianças; os gritos apavorantes com que as repreendem, provocam uma grave desorganização na personalidade em crescimento da criança, e desequilibra duma forma contínua o seu sistema nervoso central. Uma grande parte dos jovens foi gradualmente perdendo o sentido de vida, a motivação na actividade estudantil, e caminham sob pressões e opressões na insegurança e instabilidade sem saber qual o seu rumo. A tendência educacional orientadora e criadora duma imagem, que confunde e desencontra o indivíduo do seu "Eu", as exigências familiares a nível escolar como os mais supremos valores a ostentar, sem se aperceberem do estado psíquico do jovem que afecta indubitavelmente a actividade intelectual, bloqueando a concentração e a memorização. A ausência de diálogo que habita em milhares de milhões de lares, afecta essencialmente os jovens. Parece tabu dialogar, mesmo quando alguém precisa de uma simples palavra de conforto ou um minuto de atenção que lhe podem salvar a vida. As tentativas de suicídio constituem advertências para aqueles que estão à sua volta, desvendam uma grave doença psíquica e testemunham profundas carências de Amor! A base do tratamento consiste pois, em providenciar apoio imediato, ajudar a pessoa a resolver as dificuldades que precipitaram a tentativa e só depois tratar a depressão.