quarta-feira, 8 de agosto de 2007

“Odeio-me e quero morrer”, Kurt Cobain

«Nasci em Aberdeen, Washington, em 1967, e vivi entre Aberdeen e Montesano que ficava a 20 milhas de distância. Andei de um lado para o outro em casas de pessoas de família durante toda a minha infância.»

«Em criança, durante um certo período, queria ser duplo cinematográfico; gostava de todas as brincadeiras mais arriscadas (…)»

«Na minha família havia uma grande paixão pela música (…) os meus pais ofereceram-me uma bateria do rato Mickey mas, provavelmente, era só uma tentativa para que eu deixasse de bater continuamente em panelas e tachos…E quando alguém me fazia aquela clássica pergunta: “O que queres ser quando fores grande?”, eu respondia-lhe prontamente: “Quero ser uma estrela de rock!”. Ao princípio ouvia tudo aquilo a que podia deitar a mão. Gostava dos Beatles.»

«Quando tinha sete anos, os meus pais separaram-se. Lembro-me de sentir vergonha disso sem saber explicar bem porquê. Não conseguia olhar de frente para alguns dos meus amigos na escola. Desejava desesperadamente ter uma família clássica, típica, com pai e mãe, desejava essa segurança.»
«(…) comecei a sentir-me diferente das outras crianças: tinha-me convencido que valia menos do que eles, porque eles tinham família ao passo que eu já não a tinha.»
«(…) custou-me muito perdoar isso aos meus pais.»
«O meu pai é incapaz de demonstrar afecto ou sequer de estabelecer uma conversa. Não queria manter uma relação apenas porque somos da mesma família. Por isso, da última vez que nos vimos, deixei isso bem claro. E, quer saber? Foi um alívio para ambos.»

«Depois do divórcio dos meus pais, de repente tudo ficou preto para mim, vivia sempre em depressão. Ia para a cama e passava horas e horas acordado, gritando dentro da minha cabeça, ou então, continha a respiração o mais que podia porque queria que a cabeça estoirasse. E se conseguisse fazer que ela estoirasse, os meus pais sentir-se-iam terrivelmente culpados…»
(Ver comportamentos suicidas)
«Quando conseguia pegar no sono, tinha sempre pesadelos tremendos, cheios de bonecas partidas, esventradas e decapitadas…Daí a pouco, a depressão dava lugar a uma raiva surda: em alguns momentos queria morrer mas também me sentia pronto a matar (…)»
«Cresci de um modo muito isolado. Tornei-me anti-social. Comecei a compreender a realidade do universo em que vivia, que tinha muito pouco para oferecer. Aberdeen era uma cidade demasiado pequena onde não encontrava amigos de quem gostasse, que fossem compatíveis comigo ou que gostassem do que eu gostava. Eu preferia coisas do tipo artístico e ouvir música.»

«(…) comecei a praticar luta livre; no princípio, era bastante bom, mas, depois, apercebi-me que me estava nas tintas para a luta livre e para o deporto em geral ao ponto dos treinos se terem tornado uma tortura…»
«No primeiro encontro do campeonato estudantil de luta livre, o meu pai estava sentado na tribuna e, desde o momento em que eu e o outro concorrente descemos para o tapete, não fiz outra coisa senão fixar o meu pai sorrindo-lhe: continuei a olhar para ele fixamente e a sorrir-lhe, enquanto o meu adversário me atirava ao chão quatro vezes seguidas…O meu pai foi-se embora deixando o ginásio ainda antes do fim do encontro e, a partir daquele dia, nunca me voltou mais a falar de desporto.»

«Os meus familiares tinham um terror danado da pobreza e, mesmo que no fundo fossem uns pobretanas, faziam tudo para parecer abastados. A minha mãe repetia-me continuamente que eu tinha absolutamente de evitar “as más companhias” (…) Mas, alguns anos depois, comecei a aperceber-me que (…) os pobretanas eram, ao fim e ao cabo, melhores, mais verdadeiros e sinceros.»
«Dos anos que passei no liceu tenho recordações dignas de filmes de terror...Em geral, os professores eram uns parvalhões, mas havia alguns mais do que outros. A um em especial odiava com todas as minhas forças: era o professor de Ciências Sociais, um fanático religioso racista, à máxima potência. Ele tinha a pretensão de "explicar a história" a partir do apocalipse e todos os meus colegas de liceu engoliam aquilo que ele dizia sem um piu...Queria realmente matá-lo e, muitas vezes, imaginava executar o gesto definitivo de o degolar bem no meio da aula, à frente de todos os estudantes.»
«Era tão anti-social que raiava a demência. Sentia-me tão diferente e louco que as pessoas deixavam-me em paz. Não me admirava nada se, então, me considerassem o tipo mais provavelmente capaz de matar alguém no baile do liceu. Cheguei a ter fantasias do género nas tenho a certeza que preferia matar-me primeiro.»
«Quando era puto lia tudo o que apanhava. Ia muito à biblioteca e faltava bastante às aulas.»
«(...) lia muito nas aulas só para me afastar dos outros e não ter de falar com eles. Muitas vezes, só para os evitar, até fingia ler.»
«Nunca conseguia arranjar rapazes amigos por isso convivia muito com raparigas e sentia que elas não eram tratadas com igualdade e respeito. Detestava a forma como, em Aberdeen, se tratava as mulheres; eram completamente oprimidas. As palavras "puta" e "cona" eram absolutamente vulgares, ouviam-se a toda a hora.»
«Finalmente compreendi que não era eu o atrasado mental.»

1 comentário:

AM disse...

Porreiro fui o teu primeiro visitante! :^D

Ena pá que post gigantesco..

Convenientemente até valeu a pena criar o exerto enorme a respeito da biografia do magnífico Kurt Cobain!