Respira fundo.
(...)
Tu e eu
Somos principalmente água.
No ano passado
A maior parte de cada um de nós
Estava no oceano.
Circulávamos juntos
No Atlântico,
Ou no Pacífico talvez,
Pois somos principalmente água.
E essa água foi erguida
Pelo calor do sol,
Pelo impacto de fotões
A cair em cascata,
Batendo no rosto do oceano.
E cada fotão
Provém do sol,
Do ventre de uma estrela;
Tu e eu fomos estrelas no ano passado.
Perseguimo-nos um ao outro
No centro turbulento do sol.
Portanto, quem vivia na tua casa no ano passado?
E onde estarás na semana que vem?
Quem é teu amigo verdadeiro e quem é o teu inimigo?
E quem serás tu no ano que vem?
Respira fundo,
Respira fundo.
Este ar sou eu,
Este ar és tu.
Este ar partilhamos.
A ti dou a minha substância e
Tu dás-me a tua.
Cada vez que respiro ligo-me
Numa órbita única
Com as grandes florestas.
A minha expiração é o seu alimento,
A deles enche os meus pulmões.
No ano passado
Eu era uma árvore
E a árvore era eu.
Todos os dias
Recolhemos substância
E continuamos a tarefa
De interminavelmente
Nos reconstruirmos
Uns dos outros
Todos os dias
Nos desfazemos de uma porção
E continuamos o ciclo
De interminavelmente
Nos devolvermos
Aos outros.
Dia a dia mudamos
E transformamo-nos uns nos outros,
A substância do universo,
Poeira de estrelas e tudo,
Atravessando cada um de nós
E nós atravessando-a
Onde estavas tu no ano passado?"
Brazier, D., "Terapia Zen (Uma abordagem budista à psicoterapia)", Editora Estrela Polar, 1ªEdição: Setembro de 2007.
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